Rodas de conversa sobre as experiências brasileiras em Turismo de Base Comunitária
- viseminariochapada
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Nesta sexta-feira (06/06) o seminário continuou a tecer diálogos sobre a importância do turismo de base comunitária para o desenvolvimento sustentável do território

A programação desta sexta (06/06) iniciou com a conferência da coordenadora da Rede Unesco UniTwin de Cultura, Turismo e Desenvolvimento, Maria Gravari-Barbas, apresentando a atuação da rede e como as universidades colaboram na construção de boas práticas de sustentabilidade.
A Rede UniTwin (University Twinning and Networking Programme) é uma iniciativa da UNESCO criada em 1992 com o objetivo de fortalecer a cooperação internacional entre instituições de ensino superior. Por meio da articulação entre universidades, centros de pesquisa e organizações parceiras, a rede promove o intercâmbio de conhecimentos, experiências e boas práticas em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável, como educação, cultura, meio ambiente e turismo.
As Cátedras UNESCO e as Redes UniTwin funcionam como plataformas de diálogo e produção coletiva de conhecimento, atuando na construção de políticas públicas, na formação de profissionais e na valorização da diversidade cultural e dos direitos humanos.
Conforme Maria Gravari-Barbas a organização dessas conexões é realizada através das universidades, como a UFC, UFCA e a USP, em parceria com a Unesco para que os pesquisadores através do seu conhecimento colaborem para o desenvolvimento sustentável do território.
A atuação da rede já passou por diversos países, como Argentina, Arábia Saudita, Marrocos e agora chega no Brasil, especificamente no cariri cearense para entender o contexto cultural e colaborar com a candidatura da Chapada a patrimônio mundial.
“As chances da Chapada do Araripe [para se tornar um patrimônio cultural oficial] depende das apresentações, da documentação do dossiê, dos dados e das informações apresentadas, porque a Unesco é muito seletiva, então é um processo bem complexo”, disse a doutora Maria Gravari-Barbas (em tradução livre).

A programação da manhã continuou com a roda de conversa “Experiência de Turismo de Base Comunitária da Acolhida na Colônia” com Thaise Guzzatti, fundadora da Acolhida na Colônia, e Mercês Parente, membro da Rede Turisol. O diálogo iniciou sobre o turismo social, que nasceu nos anos 50 e é resistente até os dias atuais. Mercês Parente compartilhou sobre o trabalho que desenvolveu com o artesanato e a forma como anda junto com o turismo solidário, pois são programas nacionais que se envolvem com políticas públicas e com a sociedade.
Em seguida, Thaise Guzzatti falou sobre como nasceu a experiência Acolhida na Colônia. A Acolhida na Colônia foi criada em 1999 e é composta por aproximadamente 200 famílias de agricultores e tem como objetivo valorizar o modo de vida no campo, através do agroturismo ecológico e social.
O projeto é focado na Agricultura familiar e é realizado nos municípios rurais de Santa Catarina. As estratégias trazidas pela Acolhida da Colônia propõem uma resistência ao modelo agrícola que elimina, um turismo usado como ferramenta para fortalecer a agricultura familiar e melhorar o meio ambiente do território. Eles ofertam na associação produtos orgânicos, atividades de lazer e educação e focam em compartilhar a cultura do lugar.

A segunda roda de conversa seguiu com o tema “Rede de Turismo Comunitária da Chapada do Araripe” com Marcilene Barbosa, do Grupo de Mulheres Artesã, Edina Santana da Casa da Rosa e Damiana Vicente, gestora do museu orgânico Lavida. A conversa envolveu ancestralidade, cultura e turismo comunitário em pequenas comunidades.
Marcilene Barbosa, do Grupo de Mulheres Artesã, comentou sobre a importância do artesanato, que fez a comunidade perceber e valorizar a própria cultura e história.
“Nós não nos víamos como artesãs, nos víamos como pessoas que faziam o trançado de palha de Carnaúba, então não tínhamos o costume de agregar valor ao nosso produto por ser algo que era feito por necessidade. Daí começamos a ter oportunidade de receber turistas em 2016/2017, a partir da Expedição Garupa, juntamente com o pessoal aqui da Casa Grande e outras famílias, que foram fazer uma visita para implantar um turismo comunitário", comentou Marcilene.
A comunidade de Marcilene se chama Várzea Queimada localizada no estado do Piauí, e atuam com a produção de artesanato de palha. Através da valorização dos saberes e da cultura do território, a comunidade transformou sua realidade. Na conversa, ela disse:
“Até aí, nós éramos uma comunidade isolada, o acesso era péssimo e também as pessoas tinham vergonha da sua residência de contar sua história. Então eles tiveram resistência em estar recebendo outras pessoas em sua casa, porque eles não queriam estar abrindo as portas para mostrar aquela realidade de vida que tinha. Foi com o turismo comunitário que quebrou todo esse tabu. Então, transformou, passamos a nos reconhecer como artesãs, passamos a valorizar nosso trabalho, hoje temos orgulho, e passamos a aceitar a nossa realidade. E a partir daí, começamos a ter novas oportunidades de contato com outras pessoas e outras culturas”.

Edina Santana compartilhou sua experiência, de forma emocionada, como surgiu o sonho e realização da Casa da Rosa, um local comunitário construído com afeto pela comunidade, nomeado “Rosa” em homenagem a mãe de Edina. Em sua fala, ela comentou como começou o sonho da construção e o momento em que a casa dialogou com o turismo social e de base comunitária.
“A casa está se transformando nisso, num lugar de afeto, de cura e de resgate”, disse Edina Santana.

Damiana Vicente comentou sobre o projeto LAVIDA, que combina biodiversidade nativa, sistemas agroflorestais e cultivos de quintais produtivos. O espaço também atua como local de acolhimento através do turismo rural. Um dos pontos altos levantados por Damiana foi sobre a alimentação de base agroecológica, preparada com ingredientes locais.
Ela mostrou alguns projetos desenvolvidos pelo LAVIDA, como cultura de uma alimentação saudável, segurança alimentar, sempre pensando na produção e no consumo de alimentos saudáveis.
“É um serviço humano, quando a gente fala de turismo a gente pensa que é algo padronizado, mas o nosso trabalho faz com que rompermos os muros desse jeito de fazer turismo” afirmou Damiana Vicente.

Esses foram os conhecimentos compartilhados durante essa manhã do segundo dia de seminário.
O Seminário é uma realização do Sistema Fecomércio Ceará por meio do SESC com organização da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri.
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